domingo, 26 de fevereiro de 2012

TRINCA - Crônicas triplas #1

 Eles




Brisava sobre as cercas, telhados e quintais daquele bairro.Só que mais agradável seria permanecer dentro de casa.Multi jornadas sob cada automóvel na volta ao lar, multi universos em cada residência, com seus multi perfis fragmentadas.Nós vivemos aqui, mas hoje contaremos sobre eles, ou, deixem eles mesmos contarem a si.

[...]

"Hoje ele fechou as caixas e desligou os despertadores.Aposentou os horários e doou o resto das horas da rotina, para o próximo.É, ele me ligou essa manhã me perguntando se eu queria algumas coisas, peguei duas ou três caixas e uns envelopes.
Quando eu saí, um pouco mais tarde, encontrei com sua esposa na mercearia e perguntei sobre ele. Segundo ela ele está melhor, só vai demorar um pouco para organizar o tempo.Ela não sabia que o que ele queria mesmo era desconstruí-lo, mas fiquei calado.E ainda me contou que encontrou um livro que não o via há anos, ele está bem feliz.Não por isso, mas que seja.Me despedi, somente , e mandei lembranças.
Fiquei pensando que se fosse sexta feira passada eu diria que ele iria matar aquela mulher, mas olha só como as coisas são.Só que as coisas são e não são, assim que é.
O trajeto que eu fiz para voltar pra casa me fez refletir sobre muitas coisas, inclusive como foi que os conheci. Isso, verdadeiramente não importa, mas é que ainda me sinto estranho aqui.Todos esses olhares e toda essa gente normal, Argh.
Amanhã compro peixe, almoço sozinho e procuro resolver essas questões, minhas, sobre a liberdade.

Lenço."



"Eu terminei de roubar as jabuticabas do vizinho e fui tomar banho. Ele ainda arrumava algumas tralhas. A campainha tocou e tomou uns momentos. A visita foi embora e pude relaxar na cama.O vento forte evitou um cochilo, peguei a carteira e fui comprar umas coisas.Essa rua me relaxa, mas é temporário.Aquele acabou de nos visitar e não desapega de nós, nada contra, mas as vezes enjoo dos outros.Pensando bem é mais fácil encontra-lo aqui do que na rua.Enfim, contei uma ou outra bobagem e voltei para casa.Não me lembro quando o conhecemos.Tanto faz, tanto fez.
A cozinha estava limpa, nenhuma dádiva.Nenhuma caixa pelo chão na casa.Dádivas. Vou ler o livro na sala. Ele estava lá.
Isso me conforta.

Ass: Esqueiro. "



"Hoje eu acordei desde que acordei.Juntei alguns objetos, anotei algumas frases e descancei. Voltei até meu quarto retirando os empecilhos que compactavam e atrapalhavam meu tempo.Abandonei uns hábitos e dei a última mais uma chance para as mudanças.Liguei para ele oferecendo certos dispensáveis e saí analisando a casa.Ele apareceu e para ela roubou algum tempo.Foi embora e levou as quatro caixas e uns envelopes.
Ela saiu, e eu arrumei minha bagunça.Aproveitei e arrumei outras bagunças.Encontrei um retrato meu com ela ,mais jovens sim, mas com a mesma animação de agora.Soa como piada.É para soar mesmo.
Tomei banho e os pensamentos me deixaram ansioso para que amanhã chegue e as tentativas continuem comecem.
Vou para a sala ainda de toalha, cansado, me jogo no sofá. Ela voltou. Mas tá tudo bem.

Com certa fé,
Sapato.”


jpms